PESSOAS-APARÊNCIA: O MEDO DE SER
Tereza Erthal

Nos dias atuais, somos freqüentados por uma carência de uma consciência idealista, isto é, aquela que predomina sobre os impulsos egoístas que andam de mãos dadas com o imediatismo. “Se ganho o meu, dane-se o outro.”; “Se posso me livrar pagando ao guarda, só desta vez, é menos trabalho e não vou fazer mais.”; expressam como o imediato entrou e se apossou de todos. Como é difícil realizar a liberdade desta forma! É necessário um adequado conhecimento interior do homem.
Distraído com o mundo fenomênico, este homem se desconhece e ignora as próprias reações emocionais, sempre imprevisíveis, e quando os problemas o visitam, responde alternadamente com violência ou depressão. Não consegue controlar-se frente às barreiras, e o anseio de ser livre, transforma-se em conquista vazia.
A liberdade não é conseguida de um momento para o outro; barreiras são necessárias, pois a liberdade é justamente a ultrapassagem destes obstáculos. Também não é possível dizer que a herdamos de nossos pais. Esta é uma conquista lenta, de cada um. Tem início com a escolha de si próprio. Aos poucos vai se aventurando a opções mais audaciosas, inclusive “guiando” aqueles mais perdidos, simplesmente com as suas atitudes. Pouco a pouco, as aparências sociais vão sendo descartadas dando lugar à legítima identidade e o homem se torna o que realmente é.
Muitos, contudo, ficam empacados no medo de serem descobertos em suas paixões exclusivistas, seus medos freqüentes, etc. A coragem é confundida com a impulsividade e a força com o poder, justamente porque vivem sem liberdade e debocham dos homens livres. Mas é na consciência profunda que está inserida a verdadeira liberdade, alcançada pelo mergulho no ser, propiciador de autoconhecimento.
Na verdade, o homem é livre e nasceu pra exercer e preservar este estado. Podemos dizer que não existe limite para a conquista desta liberdade, embora existam os que se recusam a se apoderar dela e preferem desistir de viver. A anarquia se disfarça em liberdade, demonstrando a violência ou a conformidade, abafando o relacionamento saudável entre as pessoas. Os verdadeiros sentimentos são camuflados para que a boa imagem surja nesta competição frenética. Vazios, sem ideais e sem consciência ética, ficam presos a desejos que jamais se satisfazem.
É preciso reverter todo este sistema injusto que desgasta o homem por simplesmente valorizá-lo pelo que tem e não pelo que de fato é. No atual sistema, adquire-se para acompanhar a moda, e a ansiedade para ser bem aceito socialmente aumenta. Cobra-se estar bem informado, conhecendo vários temas sem a menor profundidade, transtornando seu equilíbrio emocional, originando uma desestruturação pessoal.
Estamos sim na época de pessoas-aparência: quase todos num contexto confuso e sem liberdade, sem rumo e desmotivados. Ocupados com as suas conquistas externas, desconhecem, e temem, a verticalidade da interiorização realmente libertadora. Desistindo de reagir, desenvolve fobias, atormentando-os. É aí que a liberdade perde o significado externo, uma espécie de prisão sem paredes. Até mesmo os sucessos profissionais, ou familiares, não conseguem reduzir o desequilíbrio. Não há finalidade que justifique a consecução das metas.
Estados fóbicos desgastam e levam à depressão profunda. Generalizando este estado, pouco a pouco surge a fobia social, e com ela a pessoa desativa os seus convívios sociais, retraindo-se mais. A ansiedade foge ao controle, tornando-se patológica. A fobia social o incapacita a realizar simples tarefas: assinar um cheque diante de alguém, comer em um restaurante, ou mesmo apenas ir até a esquina de casa. Sempre achando que está sobre severa observação dos demais, passa a abominar a presença do outro. A tendência natural é fugir de tudo e de todos, tendo a ansiedade e o medo como justificativas.
Contudo, a vida de relação com os demais é essencial para o progresso. Como formou uma imagem inferiorizada, incapacitada de si, um círculo vicioso se forma. Ausente a segurança afetiva, vê no amigo o possível inimigo de amanhã. Mas mantém a farsa de uma conduta artificial na qual se apresenta muito bem, aparentemente capazes de enfrentar riscos. O abismo entre o que demonstram e o que são realmente, gera o pavor de serem vencidos, desconsiderados, o que justifica o comportamento de fuga constante.
O homem cava o seu próprio abismo quando se submete as ilusões; conspirando sobre ele próprio, torna esta geração do medo, uma sociedade sem destino. A saída é a troca de olhar: olhar pra dentro de si, buscando aprender a se ver sem os julgamentos externos e distorcidos de uma sociedade insana. Descobrindo que é o senhor de seu destino e que pode traçá-lo pouco a pouco, fiel ao que realmente sente, vai construindo uma auto- estima saudável. A liberdade volta a ser possível, um direito de todos nós!