A busca e o Caminho

Ao longo das idades, o homem parece ter buscado algo além de si próprio, mais do que bem estar material. Algo sempre o perturbou e foi buscar a verdade, Deus ou realidade, qualquer coisa imperturbável pela corrupção humana. Qual a finalidade da vida? Tem ela algum significado? Presenciando uma enorme confusão reinante na vida, e vivenciando uma grande frustração, queria saber se havia alguma coisa além de seus próprios limites. Sem encontrar o que sempre buscou, precisou cultivar a fé, quer em um salvador, um profeta, um guru ou num ideal; a fé que invariavelmente gera a violência. E na batalha da vida, aprendeu a estabelecer códigos de conduta, de acordo com a sociedade vigente. Aceitou padrões de comportamentos como parte de sua tradição. Entendeu que tinha que esperar que alguem lhe dissesse o que seria certo e errado, até que suas reações foram se automatizando. Viveu daquilo que lhe disseram e se afastou do seu experienciar.
A história teológica mostra que se observamos determinados rituais, recitarmos preces ou cântigos sagrados, obedecermos aos padrões, controlarmos os desejos, enfim, depois de torturar bem o corpo e o espírito, encontraremos a paz e nos livraremos deste mundo desprezível. Uma espécie de bilhete de entrada pro paraíso. A mente, assim, foi se ajustando aos padrões estabelecidos. Contudo, a mente embotada pelo ajustamento disciplinar não é capaz de achar caminho algum, a não ser em conformidade com a sua própria deformação. Com esta atitude, o olhar foi se especializando na observância externa, nas buscas exteriores.
O caminho tradicional parte da periferia para dentro visando atingir a infinita beleza do amor, através do tempo. Ensinam-nos a ir retirando camada por camada até chegar ao centro. Decepcionado o homem fica quando nada encontra. Mas a mente está embotada, insensível. O que conseguiria enxergar?A primeira causa da desordem é buscar a realidade prometida por outros. O seguidor é aquele que busca uma garantia de uma vida espiritual confortável ou a saída desta prisão. Embora o homem seja avesso à ditadura, ou qualquer forma que restrinja a sua liberdade, permite deformar a sua mente e a sua vida se colocando aos pés de um tirano qualquer. Mas, se por outro lado, ele rejeitar realmente tal autoridade dita espiritual ou absoluta, assim como as crenças, dogmas e rituais, sente-se sozinho, em conflito coma sociedade. É deste ponto que os falsos gurus se aproveitam. Não apenas existe ua sensação de solidão, como deixa de ser um humano respeitável, ou vai perder a oportunidade de receber os ganhos prometidos. Ele perdeu a confiança natural em si mesmo e o que resta é confiar em alguem que a represente. Se rejeita por ter compreendido a imaturidade desta atitude, libertando-se do medo que tanto o aprisiona, transcende a armadilha da respeitabilidade. Não há o que se buscar. A busca é como olhar vitrines, sem visitar seu conteúdo. Como nos disse Krishnmurti em uma de suas conferências, “Só há falta de maturidade na total ignorância de si mesmo. A compreensão de si próprio é o caminho da sabedoria.”
Todas as formas exteriores de mudança, produzidas pelas guerras, revoluções, reformas, leis e ideologias, falharam completamente, já que não mudaram a natureza básica do homem e, portanto, da sociedade.Poderia perguntar se uma sociedade onde vigora a competiçao acirrada, a brutalidade e o medo pode ser extinta? Terminar não conceitualmente ou como uma esperança, mas como um fato real. Isso somente vai acontecer quando cada um de nós, não importando a que cultura pertençamos, for inteiramente responsável por tada a situação do mundo. Por acaso não somos responsáveis por todas as guerras, geradas pela agressividade de nossas vidas? Nosso nacionalismo, nossos preconceitos, nossos ideais, nossas crenças, tudo isso nos divide.
A verdade sobre si mesmo e sobre o mundo não oferece um caminho. A verdade é viva, simples assim. Somente coisas estáticas tem um caminho já traçado. A verdade vibra! É algo que se move, que não tem pouso, que não tem templos ou exige rituais. Nenhum filósofo pode levar a verdade ao outro. Isto é atingido através da vivência pessoal- a coisa viva é o que realmente somos com nossa brutalidade, angústia, desepêro,etc. A compreensão de tudo isso, isto é, no experienciar destas coisas, encontra-se a verdade.
Concluimos que não precisamos depender de niguem: não há instrutor ou qualquer autoridade que seja capaz de encontrar a verdade que eu sou, por mim.Só existe a nossa relação com o mundo , com as pessoas e nada mais. Um psicólogo irá facilitar este processo estimulando a vivência e aceitando incondicionalmente o seu cliente. Isto o levará a abrir a possibilidade de procurar aceitar a si mesmo. Observe o que está acontecendo em sua vida diária, interior e exteriormente. Vai perceber que tudo se baseia num conceito intelectual e o intelecto não constitui o campo total da existência. Observando o que acontece no mundo, perceberá que não há processo interior nem exterior.O que há é um processo unitário, uma espécie de movimento integral, sendo que o movimento interior se expressa no exterior e o movimento exterior reage ao interior. O que é necessário é olhar este fato. E ninguem pode ensinar-nos a olhar. No máximo se pode ajudar à pessoa a perceber seus impeditivos, aquilo que parece obstruir seu olhar, mas o seu olhar é único . Portanto, olhe, simplesmente. Permita que sua mente irascível se abra à possibilidade do novo, do não dito, do não controlado, e descobrirá que as respostas já estão contidas nas perguntas.
Perguntam se não teria outro caminho, então. Por que não causamos uma explosão do centro? Talvez esta explosão seja a vibração atingida quando, a sós consigo mesmo, está livre pra fazer a sua própria descoberta.Havendo liberdade, há energia. Difere inteiramente da revolta, pois não há agir correta ou incorretamente, quando há liberdade. Logo, não há medo, e a mente sem medo é capaz de infinito amor, E o Amor pode fazer o que quer.

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